sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Romper os muros

Medo é igual castanha-do-pará: na dose certa é super saudável, mas na errada te leva à morte.
Lembro do medo que senti quando, ao atravessar o Rio Araguaia voltando de um passeio em família, a canoa começou a afundar com isopor, panelas, cachorro, minha vó... Eu estava sem colete salva-vidas (imprudência das grandes) e no bico da canoa, que foi a primeira parte a afundar, justamente no canal, o trecho mais profundo do rio. Sem pensar muito, pulei da canoa, nadei até o concreto depois do canal e esperei até algum pescador me puxar para fora da água. Quando eu olhei pro rio, minha família inteira boiava, cada um segurando uma coisa, e a minha mãe... agarrada na coleira do poodle. Morro de rir sozinha quando lembro dessa cena (apesar de na hora não ter tido muita graça, rs). O medo me fez sair da canoa, nadar, chegar primeiro e assistir àquele festival de pessoas boiando. Mas eu também poderia ter ficado na canoa e afundado no medo e no rio.

Lembro de umas histórias que minhas tias da Bahia contavam sobre os valentões que morriam nos remansos do Rio Corrente. Cada uma mais escabrosa que a outra. Eles não tinham medo de nada; logo, morriam afogados, enquanto os que tinham medo de entrar no rio, morriam de tédio. Eu tentava estar ali, no meio-termo, administrando o medo de modo que pudesse entrar no rio mas também sair viva dele.

A máxima que diz que o medo de tentar é pior que o fracasso já é consagrada. Mas muita gente não liga não. Quer viver sua vida sem aventura, no seu escritório organizado, seu círculo restrito de amizades, seus programas semanalmente premeditados. "Se você é feliz assim", diria eu, mas não direi. Porque pessoas assim, desse jeito que em certa medida já fui, não têm como ser felizes, porque se arrependem. "Zona de conforto é zona de perigo", digo eu em qualquer circunstância, inclusive em meus perfis em redes sociais. Isso alimenta a minha vontade de conhecer gentes, países, culturas, comidas, experiências diferentes.

Esses dias deixei pra trás meu medo do ridículo. Que experiência libertadora. Fui pra balada com o marido toda comportadinha, cantei uma musiquinha no karaokê toda tímida (ganhei como prêmio um caderno de atividades da Turma da Mônica) e a metamorfose aconteceu quando o DJ começou a tocar as piores músicas dos anos 90. Um rapaz obeso, que decerto era o animador da casa, subiu no palco e começou a fazer to-das as coreôs, de Planeta Xuxa a TV Colosso, passando por Dominó, Kátia e outras pérolas. Como nós admiramos aquele moço - que mais pro fim da noite estava vestido de Angélica, fazendo uma performance de "Vou de táxi". Quando me dei conta, estava dançando o tema de Maria do Bairro (aquela novela mexicana "ma-ra-vi-lho-sa" estrelada pela Thalia) ao lado do admirável rapaz, e depois Macarena, e depois o pagode do Grupo Molejo. Acho que meu marido nunca se divertiu tanto comigo em uma balada. Acho que eu nunca me diverti tanto comigo mesma.

Destravemos as nossas existências! Percamos o medo do ridículo, de se aproximar, de conhecer!
Vamos romper os nossos Muros de Berlim! 

A performance de "Vou de táxi" que me fez virar fã desse rapaz.
Procurei-o na saída pra dizer que ele era mil vezes melhor que a Angélica.

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